Quais são os princípios básicos para realização de curativos?
Os princípios básicos para realização de curativos incluem:
- Técnica asséptica: Higienização das mãos, uso de EPI, campo estéril quando necessário
- Avaliação da ferida: Localização, dimensões, tipo de tecido, exsudato, bordas, pele perilesional
- Limpeza adequada: Solução fisiológica 0,9% em jato (4-15 psi), do centro para as bordas
- Remoção de tecido desvitalizado: Desbridamento quando necessário e conforme competência profissional
- Escolha do curativo apropriado: Baseada nas características da ferida e objetivos do tratamento
- Proteção da pele perilesional: Uso de produtos barreira quando necessário
- Conforto do paciente: Posicionamento adequado, controle da dor
- Documentação: Registro detalhado do procedimento e evolução da ferida
- Frequência adequada de troca: Conforme saturação do curativo ou protocolo
- Educação do paciente: Orientações sobre autocuidado e sinais de alerta
Quais são as técnicas de desbridamento e suas indicações?
Técnicas de desbridamento:
- Desbridamento autolítico:
- Método: Uso de curativos que mantêm o meio úmido (hidrogéis, hidrocoloides)
- Indicações: Pequenas áreas de necrose, pacientes com risco de sangramento
- Vantagens: Seletivo, indolor, não invasivo
- Desvantagens: Processo lento, risco de maceração perilesional
- Desbridamento enzimático:
- Método: Aplicação de enzimas proteolíticas (colagenase, papaína)
- Indicações: Áreas de necrose, quando outros métodos são contraindicados
- Vantagens: Seletivo, fácil aplicação
- Desvantagens: Processo relativamente lento, pode irritar pele perilesional
- Desbridamento mecânico:
- Método: Fricção com gaze, irrigação sob pressão, hidroterapia
- Indicações: Tecido desvitalizado solto, esfacelo
- Vantagens: Rápido, baixo custo
- Desvantagens: Não seletivo, pode causar dor e trauma ao tecido saudável
- Desbridamento cirúrgico:
- Método: Remoção de tecido com instrumentos cortantes (bisturi, tesoura)
- Indicações: Grandes áreas de necrose, infecção, celulite, fasceíte
- Vantagens: Rápido, eficaz, permite avaliação da profundidade
- Desvantagens: Invasivo, doloroso, requer habilidade técnica, risco de sangramento
- Desbridamento biológico (larvaterapia):
- Método: Aplicação de larvas estéreis de mosca (Lucilia sericata)
- Indicações: Feridas com tecido necrótico, inclusive com biofilme
- Vantagens: Altamente seletivo, eficaz contra bactérias resistentes
- Desvantagens: Disponibilidade limitada, aceitação do paciente, contraindicado em feridas com comunicação com cavidades
Como realizar a técnica de bandagem compressiva para úlceras venosas?
Técnica de bandagem compressiva para úlceras venosas:
Materiais necessários:
- Bandagens de compressão (elásticas ou inelásticas)
- Curativo primário para a úlcera
- Malha tubular ou algodão ortopédico
- Fita adesiva
- Tesoura
Preparo:
- Verificar ITB (Índice Tornozelo-Braquial) > 0,8 para garantir segurança
- Posicionar o paciente deitado com a perna elevada por 15-30 minutos
- Realizar limpeza e curativo primário na úlcera
- Proteger proeminências ósseas com algodão ortopédico
Técnica para bandagem de curta extensão (inelástica):
- Iniciar no pé, fixando a bandagem na base dos dedos
- Realizar voltas em "8" ao redor do tornozelo
- Continuar com sobreposição de 50% até abaixo do joelho
- Manter tensão uniforme (pressão maior no tornozelo, diminuindo gradualmente)
- Fixar com fita adesiva, sem apertar
Técnica para sistema multicamadas:
- Aplicar malha tubular ou algodão ortopédico
- Primeira camada: bandagem de retenção (absorção)
- Segunda camada: bandagem de compressão leve
- Terceira camada: bandagem elástica de compressão
- Quarta camada: bandagem coesiva de fixação
Cuidados:
- Verificar circulação distal após aplicação
- Orientar paciente sobre sinais de alerta (dor intensa, dormência, cianose)
- Trocar conforme saturação ou a cada 1-7 dias, dependendo do sistema
- Ensinar exercícios de panturrilha para melhorar retorno venoso
Como realizar a técnica de curativo para feridas cavitárias?
Técnica de curativo para feridas cavitárias:
Materiais necessários:
- Luvas estéreis
- Solução fisiológica 0,9%
- Seringa de 20ml com cateter para irrigação
- Material para preenchimento (alginato, hidrofibra, gaze)
- Curativo secundário (espuma, filme transparente)
- Pinças estéreis (se necessário)
Técnica:
- Preparo:
- Posicionar o paciente confortavelmente
- Expor apenas a área da ferida
- Remover curativo anterior com técnica atraumática
- Avaliação:
- Mensurar dimensões (comprimento, largura, profundidade)
- Avaliar presença de túneis ou lojas
- Identificar tipo de tecido e exsudato
- Limpeza:
- Irrigar com SF 0,9% em jato (seringa com cateter)
- Pressão suficiente para remover debris sem traumatizar (4-15 psi)
- Garantir limpeza de toda a cavidade, inclusive túneis
- Preenchimento:
- Selecionar material adequado conforme exsudato
- Preencher suavemente, sem compactar (ocupar 75% do espaço)
- Em túneis, usar material em fita ou tiras
- Garantir que todo material possa ser removido (manter parte externa visível)
- Cobertura secundária:
- Aplicar curativo secundário que mantenha umidade adequada
- Fixar de forma segura, sem pressão excessiva
Cuidados especiais:
- Documentar características da ferida e material utilizado
- Monitorar sinais de infecção
- Avaliar necessidade de desbridamento
- Trocar conforme saturação ou protocolo
- Considerar terapia por pressão negativa para cavidades extensas
Como aplicar a técnica de terapia por pressão negativa (TPN)?
Técnica de aplicação da terapia por pressão negativa (TPN):
Materiais necessários:
- Dispositivo de TPN (bomba de vácuo)
- Espuma específica (poliuretano ou álcool polivinílico)
- Filme adesivo transparente
- Tubo coletor com reservatório
- Solução fisiológica 0,9%
- Material para limpeza e desbridamento (se necessário)
Preparo da ferida:
- Realizar limpeza com SF 0,9%
- Desbridar tecido necrótico (a TPN não substitui o desbridamento)
- Hemostasia adequada (sangramento ativo é contraindicação)
- Proteger estruturas vitais (vasos, nervos, órgãos) com gaze não aderente
Técnica de aplicação:
- Preparo da espuma:
- Cortar a espuma no tamanho e formato da ferida
- Para feridas profundas, usar múltiplas camadas
- Documentar número de peças utilizadas
- Aplicação da espuma:
- Colocar a espuma em contato com todo o leito da ferida
- Preencher cavidades sem compactar
- Espuma deve ficar no nível da pele, não acima
- Selamento com filme:
- Cobrir a espuma e 3-5 cm de pele perilesional
- Evitar tensão e rugas no filme
- Garantir selamento hermético
- Aplicação do coletor:
- Fazer abertura no filme (2-3 cm)
- Aplicar o coletor sobre a abertura
- Conectar o tubo à bomba de vácuo
- Programação da pressão:
- Iniciar com 125 mmHg (ajustar conforme tolerância)
- Modo contínuo nas primeiras 48h, depois intermitente
- Menor pressão para feridas dolorosas (75-100 mmHg)
Monitoramento:
- Verificar selamento adequado (ausência de vazamentos)
- Avaliar características e volume do exsudato
- Monitorar dor e desconforto
- Trocar curativo a cada 48-72h (feridas infectadas) ou 3-5 dias
- Documentar evolução da ferida a cada troca