Importância da Avaliação Sistemática

A avaliação sistemática e padronizada de feridas é fundamental para o planejamento do cuidado, monitoramento da evolução e comunicação efetiva entre a equipe multidisciplinar. Uma avaliação completa permite documentar as características da ferida, identificar fatores que podem afetar a cicatrização e determinar a eficácia das intervenções.

Benefícios da Avaliação Padronizada

  • Documentação consistente e objetiva
  • Monitoramento preciso da evolução
  • Comunicação efetiva entre profissionais
  • Embasamento para decisões terapêuticas
  • Avaliação da eficácia das intervenções
  • Suporte para questões legais e de auditoria

Avaliação Inicial do Paciente

Antes de avaliar a ferida propriamente dita, é essencial realizar uma avaliação completa do paciente, considerando fatores que podem influenciar o processo de cicatrização.

PARÂMETRO CLASSIFICAÇÃO
Quantidade Ausente: leito seco
Escasso: leito úmido, sem acúmulo visível
Moderado: leito úmido, com acúmulo visível
Abundante: leito saturado, com extravasamento
Cor Seroso: claro, aquoso
Sanguinolento: vermelho, com sangue
Serossanguinolento: rosado, mistura de seroso e sangue
Purulento: amarelo, verde ou marrom, espesso
Odor Ausente: sem odor perceptível
Discreto: odor perceptível apenas ao remover o curativo
Moderado: odor perceptível ao se aproximar do paciente
Forte: odor perceptível ao entrar no ambiente

Parâmetros de Avaliação da Ferida

A avaliação da ferida deve incluir diversos parâmetros que, em conjunto, fornecem uma visão completa de suas características e evolução.

Localização Anatômica

Identifique precisamente a localização da ferida, utilizando pontos de referência anatômicos. Em caso de múltiplas feridas, numere-as ou nomeie-as para facilitar o acompanhamento.

Mensuração

A mensuração precisa da ferida é essencial para monitorar sua evolução. Utilize métodos padronizados e consistentes.

  • Comprimento e largura: Meça o maior comprimento (céfalo-caudal) e a maior largura (látero-lateral) em centímetros.
  • Profundidade: Utilize um cotonete estéril ou instrumento de medição específico para determinar a profundidade em centímetros.
  • Área: Calcule a área aproximada multiplicando o comprimento pela largura, ou utilize métodos mais precisos como traçado em acetato ou fotografia digital com escala.
  • Volume: Para feridas cavitárias, estime o volume utilizando a fórmula: comprimento x largura x profundidade ÷ 2.

Leito da Ferida

Avalie o tipo de tecido presente no leito da ferida e sua proporção. Utilize o sistema de cores para facilitar a documentação.

Tipo de Tecido Cor Características
Tecido de Granulação Vermelho Tecido vermelho vivo, úmido, brilhante, com aspecto granular
Tecido de Epitelização Rosa Tecido rosa claro, novo, que cresce das bordas ou como ilhas no leito
Esfacelo Amarelo Tecido amarelado, fibrinoso, aderido ao leito da ferida
Necrose Preto Tecido escuro, seco, duro (escara) ou amolecido (necrose úmida)
Tipos de Tecido

Figura 3: Diferentes tipos de tecido no leito da ferida.

Exsudato

Avalie a quantidade, cor, consistência e odor do exsudato.

Parâmetro Classificação
Quantidade
  • Ausente: leito seco
  • Escasso: leito úmido, sem acúmulo visível
  • Moderado: leito úmido, com acúmulo visível
  • Abundante: leito saturado, com extravasamento
Cor
  • Seroso: claro, aquoso
  • Sanguinolento: vermelho, com sangue
  • Serossanguinolento: rosado, mistura de seroso e sangue
  • Purulento: amarelo, verde ou marrom, espesso
Odor
  • Ausente: sem odor perceptível
  • Discreto: odor perceptível apenas ao remover o curativo
  • Moderado: odor perceptível ao se aproximar do paciente
  • Forte: odor perceptível ao entrar no ambiente

Bordas e Pele Perilesional

Avalie as características das bordas da ferida e da pele ao redor.

  • Bordas: Aderidas, descoladas, maceradas, hiperqueratósicas, enroladas (epibolia)
  • Pele perilesional: Íntegra, macerada, eritematosa, edemaciada, ressecada, descamativa, hiperpigmentada

Sinais de Infecção

Identifique sinais e sintomas que podem indicar infecção na ferida.

Sinais Clássicos Sinais Secundários
  • Eritema
  • Calor local
  • Edema
  • Dor
  • Exsudato purulento
  • Tecido de granulação friável
  • Aumento do exsudato
  • Odor fétido
  • Descoloração do tecido de granulação
  • Atraso na cicatrização
  • Formação de bolsas ou túneis

Instrumentos de Avaliação

Diversos instrumentos padronizados estão disponíveis para auxiliar na avaliação e documentação de feridas.

Escala PUSH (Pressure Ulcer Scale for Healing)

Desenvolvida para monitorar a cicatrização de úlceras por pressão, avalia três parâmetros: área da ferida, quantidade de exsudato e tipo de tecido. A pontuação varia de 0 a 17, sendo que pontuações menores indicam melhora na cicatrização.

Escala de Bates-Jensen (BWAT)

Avalia 13 características da ferida: tamanho, profundidade, bordas, descolamento, tipo de tecido necrótico, quantidade de tecido necrótico, tipo de exsudato, quantidade de exsudato, cor da pele ao redor, edema perilesional, endurecimento perilesional, tecido de granulação e epitelização. A pontuação varia de 13 a 65, sendo que pontuações menores indicam melhor condição da ferida.

TIME (Tissue, Infection/Inflammation, Moisture, Edge)

Framework para avaliação e manejo do leito da ferida, focando em quatro componentes principais:

  • T (Tissue): Avaliação do tecido no leito da ferida
  • I (Infection/Inflammation): Avaliação de sinais de infecção ou inflamação
  • M (Moisture): Avaliação do equilíbrio de umidade
  • E (Edge): Avaliação das bordas e avanço epitelial

Documentação Fotográfica

A fotografia é uma ferramenta valiosa para documentar a aparência da ferida e monitorar sua evolução ao longo do tempo. Para garantir a qualidade e padronização das imagens, siga estas recomendações:

  • Obtenha consentimento do paciente antes de fotografar
  • Mantenha a privacidade do paciente, expondo apenas a área da ferida
  • Utilize iluminação adequada, evitando flash quando possível
  • Inclua uma régua ou escala de referência na imagem
  • Mantenha a mesma distância, ângulo e condições de iluminação em fotografias sequenciais
  • Fotografe a ferida antes e após a limpeza
  • Inclua identificação do paciente, data e localização da ferida (respeitando normas de confidencialidade)

Frequência de Avaliação

A frequência de avaliação deve ser determinada com base nas características da ferida, condição do paciente e protocolo institucional. Recomendações gerais incluem:

  • Avaliação inicial completa no primeiro contato com o paciente
  • Reavaliação a cada troca de curativo
  • Avaliação completa pelo menos uma vez por semana para feridas crônicas
  • Avaliação mais frequente para feridas com sinais de complicação ou deterioração
  • Reavaliação após mudanças significativas no tratamento

Pontos-Chave

  • A avaliação sistemática e padronizada é fundamental para o manejo eficaz de feridas
  • Considere tanto fatores locais da ferida quanto fatores sistêmicos do paciente
  • Utilize instrumentos padronizados para garantir consistência na avaliação
  • Documente de forma clara e objetiva, incluindo fotografias quando possível
  • Reavalie regularmente para monitorar a evolução e ajustar o tratamento conforme necessário

Referências

  1. Baranoski S, Ayello EA. Wound Care Essentials: Practice Principles. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2016.
  2. Bates-Jensen BM, Sussman C. Tools to measure wound healing. In: Sussman C, Bates-Jensen BM, editors. Wound Care: A Collaborative Practice Manual. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2012. p. 131-72.
  3. Keast DH, et al. MEASURE: A proposed assessment framework for developing best practice recommendations for wound assessment. Wound Repair Regen. 2004;12(3 Suppl):S1-17.
  4. Schultz GS, et al. Wound bed preparation: a systematic approach to wound management. Wound Repair Regen. 2003;11 Suppl 1:S1-28.

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