Farmacologia dos Curativos

Introdução aos Curativos

Os curativos modernos são desenvolvidos para criar um ambiente ideal para a cicatrização, mantendo umidade adequada, temperatura apropriada, trocas gasosas e proteção contra contaminação externa. A escolha do curativo deve ser baseada nas características da ferida, fase de cicatrização, quantidade de exsudato, presença de infecção e localização anatômica.

Princípios do Ambiente Ideal para Cicatrização

Manutenção da umidade adequada
Remoção do excesso de exsudato
Permissão de trocas gasosas
Proteção contra contaminação externa
Manutenção da temperatura adequada
Proteção contra trauma mecânico

Classificação dos Curativos

Os curativos podem ser classificados de acordo com sua função primária, composição, forma de apresentação ou interação com a ferida. A seguir, apresentamos os principais tipos de curativos e suas características.

Hidrogel

Compostos por polímeros hidrofílicos (geralmente polietileno, poliuretano ou amido) com alto teor de água (70-90%). Disponíveis em forma de gel amorfo, placas ou impregnados em gaze.

Indicações	Mecanismo de Ação	Contraindicações
Feridas secas ou com pouco exsudato Feridas com tecido necrótico ou esfacelo Queimaduras de 1º e 2º graus Feridas dolorosas	Hidratação do leito da ferida Desbridamento autolítico Alívio da dor Preenchimento de espaços mortos	Feridas com grande quantidade de exsudato Feridas infectadas (alguns tipos) Hipersensibilidade aos componentes

Alginato de Cálcio

Derivados de algas marinhas (ácido algínico), compostos por fibras de alginato de cálcio e sódio. Disponíveis em forma de placas, fitas ou cordões.

Indicações	Mecanismo de Ação	Contraindicações
Feridas com moderado a grande exsudato Feridas sangrantes Feridas infectadas Feridas cavitárias	Absorção de exsudato Hemostasia Desbridamento autolítico Manutenção do meio úmido	Feridas secas ou com pouco exsudato Feridas com necrose seca Hipersensibilidade aos componentes

Hidrocoloide

Compostos por gelatina, pectina e carboximetilcelulose sódica, com camada externa de poliuretano. Disponíveis em forma de placas, pastas ou pós.

Indicações	Mecanismo de Ação	Contraindicações
Feridas com pouco a moderado exsudato Úlceras por pressão estágios I, II e III Feridas com tecido de granulação Proteção de áreas de risco	Absorção de exsudato Manutenção do meio úmido Desbridamento autolítico Barreira contra contaminação	Feridas com grande quantidade de exsudato Feridas infectadas Queimaduras de 3º grau Hipersensibilidade aos componentes

Espumas/Hidropolímeros

Compostos por poliuretano, silicone ou hidropolímeros. Disponíveis em forma de placas, cavitários ou com bordas adesivas.

Indicações	Mecanismo de Ação	Contraindicações
Feridas com moderado a grande exsudato Úlceras por pressão Úlceras venosas Feridas traumáticas	Alta absorção de exsudato Manutenção do meio úmido Isolamento térmico Proteção contra trauma	Feridas secas Feridas com necrose seca Queimaduras de 3º grau Hipersensibilidade aos componentes

Coberturas com Prata

Diversos tipos de curativos (espumas, hidrocoloides, alginatos) impregnados com prata iônica ou nanocristalina.

Indicações	Mecanismo de Ação	Contraindicações
Feridas infectadas ou com risco de infecção Queimaduras Feridas crônicas colonizadas Feridas cirúrgicas com sinais de infecção	Ação antimicrobiana de amplo espectro Redução da carga bacteriana Controle de odor Propriedades específicas do curativo base	Hipersensibilidade à prata Uso prolongado (risco de argiria) Pacientes em ressonância magnética Uso concomitante com soluções salinas (alguns tipos)

Seleção do Curativo Adequado

A escolha do curativo deve ser baseada em uma avaliação completa da ferida e do paciente. Considere os seguintes fatores:

Características da ferida: tipo, localização, tamanho, profundidade, quantidade de exsudato, presença de tecido necrótico ou infecção.
Fase de cicatrização: diferentes curativos são indicados para diferentes fases do processo de cicatrização.
Condição do paciente: idade, estado nutricional, doenças de base, mobilidade, adesão ao tratamento.
Disponibilidade e custo: considere a relação custo-benefício e a disponibilidade dos materiais.
Facilidade de aplicação: especialmente importante para curativos que serão realizados pelo próprio paciente ou cuidador.

Pontos-Chave

Não existe um curativo ideal para todos os tipos de feridas
A escolha do curativo deve ser reavaliada regularmente
O curativo deve ser trocado quando saturado, deslocado ou conforme recomendação do fabricante
Combine diferentes tipos de curativos quando necessário
Considere o custo-benefício na escolha do curativo

Referências

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Dhivya S, Padma VV, Santhini E. Wound dressings - a review. Biomedicine (Taipei). 2015;5(4):22.
Vowden K, Vowden P. Wound dressings: principles and practice. Surgery (Oxford). 2017;35(9):489-94.
Sociedade Brasileira de Estomaterapia. Classificação das Coberturas para Feridas. Rev Estima. 2019;17:e1119.