Feridas Agudas

Feridas agudas são aquelas causadas por traumas súbitos (corte, queimadura, laceração) que seguem o curso normal de cicatrização sem complicações. Geralmente, apresentam:

  • Causa clara: cirurgia, acidente, queimadura térmica/química.
  • Resposta inflamatória normal: dor, eritema e edema iniciais adequados.
  • Tecido viável: bordos finos e bem vascularizados.
  • Baixa contaminação: risco de infecção controlado com desbridamento e higiene.
  • Curativo simples: feridas limpas e estéreis (cirúrgicas) podem requerer sutura e gaze; feridas traumáticas limpas respondem a limpeza e curativos básicos.

Exemplos incluem incisões cirúrgicas que cicatrizam sem intercorrências, lacerações suturadas oportunamente, queimaduras superficiais de segundo grau.

Em feridas agudas, casos graves (abrasões extensas, queimaduras profundas, ferimentos penetrantes com contaminação) podem progredir para feridas complicadas, exigindo terapia avançada. Contudo, o padrão típico é cicatrização ordenada em poucas semanas.

Feridas Crônicas

Feridas crônicas resultam da falha em progredir pelas fases da cicatrização. Ficam frequentemente estagnadas em inflamação prolongada. Caracterizam-se por:

  • Etiologia multifatorial: fatores sistêmicos (diabetes, insuficiência venosa/arterial, imunossupressão) e locais (hipóxia, compressão contínua, infecção).
  • Patofisiologia desregulada: níveis elevados de citocinas inflamatórias e metaloproteinases, recuado de fatores de crescimento no leito da ferida, presença de tecido desvitalizado ou biofilme bacteriano.
  • Aspecto clínico variado: bordas fixas, leito com tecido esfacelado (amarelado) e necrose, exsudato abundante e frequente odor fétido se infectado. Dor pode ser frequente (úlceras arteriais) ou ausente (pé diabético).

Principais Tipos de Feridas Crônicas

Lessão por Pressão

Decorrentes de pressão prolongada/forças de cisalhamento em pele comprimida contra superfícies de suporte. Classificadas em estágios I–IV de acordo com profundidade. Comuns em pacientes acamados, idosos ou com mobilidade reduzida. Associadas a mortalidade elevada e custos altos.

Úlcera por Pressão

Úlceras Venosas de Perna

Relacionadas a insuficiência venosa crônica. Localizam-se principalmente no terço inferior da perna, bordas irregulares, frequentemente exsudativas e com edema. A pele ao redor pode apresentar dermatite ocre. Demoram meses ou anos para cicatrizar e recidivam facilmente sem tratamento adequado (compressão, ambulação).

Úlceras Arteriais/Periféricas

Devido à isquemia tecidual por aterosclerose ou doença arterial periférica. Normalmente dolorosas (principalmente em repouso/noite), fundo pálido, necrose seca em úlceras avançadas. Localizam-se em áreas distais (pés, dedos). Requerem melhora do fluxo sanguíneo (angioplastia, cirurgia vascular) como base do tratamento.

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Úlceras Neuropáticas (Pé Diabético)

Ocorrem em pacientes diabéticos com neuropatia sensitiva e distúrbios vasculares. Lesões, muitas vezes na planta dos pés ou joanetes, têm calosidade circundante. São geralmente indolores e facilmente infectam. A dessensibilização impede alívio de pressão, facilitando progressão para infecções profundas e osteomielite.

Classificação por Integridade da Pele

Tipo Características Exemplos
Feridas Abertas Ruptura da barreira cutânea, exposição de tecidos subjacentes Cortes, lacerações, úlceras, queimaduras
Feridas Fechadas Integridade da pele preservada, mas dano interno Contusões, hematomas, esmagamentos

Classificação por Profundidade

Tipo Características Exemplos
Espessura Parcial (Superficial) Afeta epiderme e talvez parte da derme superficial Abrasões, queimaduras de 1º/2º grau superficiais
Espessura Total (Profunda) Atinge toda a pele, tecido subcutâneo, às vezes músculo ou osso Queimaduras de 3º grau, úlceras por pressão grau III/IV

Classificação pela Carga Microbiana

Tipo Características
Ferida Limpa Ambiente estéril, sem sinais de inflamação
Ferida Limpa-Contaminada Cirúrgica com breve penetração de trato digestivo, respiratório, geniturinário
Ferida Contaminada Traumas ou cirurgia com ruptura significativa do trato ou perfuração recente
Ferida Infectada Microrganismos patogênicos proliferando, sinais clínicos de infecção presentes

Pontos-Chave

  • Feridas agudas seguem um processo de cicatrização normal e ordenado
  • Feridas crônicas falham em progredir pelas fases normais de cicatrização
  • A classificação adequada da ferida é essencial para determinar o tratamento apropriado
  • Fatores sistêmicos e locais influenciam significativamente o processo de cicatrização
  • Cada tipo de ferida crônica tem características específicas que guiam o manejo

Referências

  1. Woo K, et al. Classification of Wound Types. In: Krasner DL, Rodeheaver GT, Sibbald RG, editors. Chronic Wound Care: A Clinical Source Book for Healthcare Professionals. 5th ed. Wayne: HMP Communications; 2015. p. 13–25.
  2. World Union of Wound Healing Societies. Principles of Best Practice: Wound Classification. 2016.
  3. Schultz GS, et al. Wound bed preparation: a systematic approach to wound management. Wound Repair Regen. 2015;23(4):345–55.
  4. Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular/Angiologia. Diretriz Brasileira de Úlcera de Pé Diabético. Rev Soc Bras Angiol Cir Vasc. 2020;13(2):75–88.

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