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Princípios Básicos de Curativos

A realização de curativos é um procedimento técnico que requer conhecimento, habilidade e prática. Independentemente do tipo de ferida ou curativo utilizado, alguns princípios básicos devem ser seguidos para garantir a eficácia do procedimento e a segurança do paciente.

Técnica Limpa vs. Técnica Estéril

A escolha entre técnica limpa e técnica estéril depende do tipo de ferida, ambiente de cuidado e condição do paciente.

Figura 1: Preparação de campo estéril para realização de curativo.

Preparo do Ambiente e Materiais

O preparo adequado do ambiente e dos materiais é essencial para a realização segura e eficaz do curativo.

Ambiente

• Local bem iluminado
• Privacidade garantida
• Temperatura ambiente confortável
• Superfície limpa para dispor os materiais
• Posicionamento adequado do paciente

Materiais Básicos

• Luvas (limpas ou estéreis, conforme indicação)
• Solução para limpeza (soro fisiológico 0,9%, água destilada)
• Gazes estéreis
• Ataduras, esparadrapo ou fitas adesivas
• Pinças (para técnica estéril)
• Tesoura limpa
• Cobertura específica conforme características da ferida
• Saco para descarte de resíduos

Sequência do Procedimento

A realização do curativo deve seguir uma sequência lógica para garantir a eficácia e segurança do procedimento.

1. Preparo

• Higienizar as mãos
• Reunir todos os materiais necessários
• Explicar o procedimento ao paciente
• Posicionar o paciente confortavelmente
• Expor apenas a área da ferida, mantendo a privacidade

2. Remoção do Curativo Anterior

• Calçar luvas limpas
• Remover fitas adesivas puxando paralelamente à pele
• Retirar o curativo anterior com cuidado, evitando traumatizar o tecido
• Se o curativo estiver aderido, umedecer com soro fisiológico antes de remover
• Observar características do curativo removido (quantidade e aspecto do exsudato)
• Descartar o curativo e as luvas em saco apropriado
• Higienizar as mãos novamente

3. Avaliação da Ferida

• Observar localização, tamanho, profundidade
• Avaliar tipo de tecido presente no leito
• Verificar características do exsudato
• Observar bordas e pele perilesional
• Identificar sinais de infecção
• Documentar as características observadas

4. Limpeza da Ferida

• Calçar novas luvas (limpas ou estéreis, conforme técnica escolhida)
• Preparar campo estéril (se técnica estéril)
• Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9% em jato (seringa de 20ml com agulha 40x12)
• Iniciar a limpeza do centro para as bordas em feridas limpas
• Iniciar das bordas para o centro em feridas infectadas
• Utilizar pressão suficiente para remover debris sem traumatizar o tecido
• Secar as bordas com gaze estéril (não secar o leito da ferida se for aplicar cobertura úmida)

Figura 2: Técnica de limpeza de ferida com soro fisiológico em jato.

5. Aplicação da Cobertura

• Selecionar a cobertura adequada conforme características da ferida
• Aplicar a cobertura primária diretamente sobre o leito da ferida
• Garantir que a cobertura cubra toda a extensão da ferida e ultrapasse ligeiramente as bordas
• Aplicar cobertura secundária se necessário (gazes, compressas)
• Fixar o curativo com atadura, esparadrapo ou fita adesiva
• Garantir que a fixação seja segura, mas não muito apertada

6. Finalização

• Deixar o paciente confortável
• Organizar o ambiente
• Descartar os materiais utilizados em local apropriado
• Remover as luvas e higienizar as mãos
• Registrar o procedimento, incluindo características da ferida, materiais utilizados e resposta do paciente
• Orientar o paciente sobre cuidados e data da próxima troca

Frequência de Troca

A frequência de troca do curativo depende de diversos fatores, incluindo o tipo de ferida, quantidade de exsudato, cobertura utilizada e recomendações do fabricante.

Independentemente da frequência recomendada, o curativo deve ser trocado imediatamente se:

• Estiver saturado de exsudato
• Estiver solto ou deslocado
• Houver suspeita de infecção
• O paciente relatar dor ou desconforto

Técnicas Específicas para Diferentes Tipos de Feridas

Feridas Cirúrgicas

• Utilizar técnica estéril nas primeiras 24-48 horas
• Limpar suavemente com soro fisiológico
• Evitar produtos que retardem a cicatrização (antissépticos)
• Manter a incisão seca e protegida
• Observar sinais de deiscência ou infecção

Úlceras por Pressão

• Remover tecido necrótico (desbridamento conforme prescrição)
• Limpar com soro fisiológico em jato
• Preencher cavidades sem compactar (preencher apenas 50-75% do espaço)
• Proteger a pele perilesional com produtos barreira
• Selecionar cobertura conforme profundidade e quantidade de exsudato

Úlceras Venosas

• Limpar com soro fisiológico
• Proteger a pele perilesional (geralmente apresenta dermatite)
• Utilizar coberturas que mantenham o meio úmido
• Aplicar terapia compressiva após o curativo (bandagens, meias)
• Elevar os membros quando em repouso

Pé Diabético

• Limpar cuidadosamente com soro fisiológico
• Remover calosidades conforme prescrição
• Evitar pressão sobre a área ulcerada
• Utilizar coberturas não aderentes
• Monitorar sinais de infecção (pacientes podem não apresentar dor)
• Orientar sobre controle glicêmico e cuidados com os pés

Queimaduras

• Utilizar técnica estéril
• Limpar suavemente com soro fisiológico morno
• Remover tecido desvitalizado conforme prescrição
• Aplicar coberturas específicas para queimaduras
• Proteger contra infecção
• Considerar manejo da dor antes do procedimento

Documentação do Curativo

A documentação adequada do procedimento é essencial para garantir a continuidade do cuidado e avaliar a eficácia do tratamento.

Elementos a Documentar

• Data e hora do procedimento
• Localização e características da ferida
• Técnica utilizada (limpa ou estéril)
• Solução utilizada para limpeza
• Tipo de cobertura aplicada
• Resposta do paciente ao procedimento
• Orientações fornecidas
• Data prevista para próxima troca