Questões sobre Técnicas de Curativo
Teste seus conhecimentos sobre os procedimentos e técnicas para realização de curativos.
A resposta correta é a alternativa C: Prevenir a introdução de microrganismos na ferida.
O princípio fundamental da técnica asséptica (ou técnica estéril) é prevenir a contaminação da ferida por microrganismos patogênicos durante o procedimento de curativo. O objetivo é criar e manter um ambiente livre de microrganismos (ou com a menor carga microbiana possível) para minimizar o risco de infecção.
Todas as outras alternativas são componentes importantes da técnica asséptica, mas derivam do princípio fundamental de prevenir a contaminação:
- Utilizar apenas materiais estéreis (A): Garante que os materiais que entram em contato direto com a ferida não introduzam microrganismos
- Lavar as mãos antes e após o procedimento (B): Reduz a carga microbiana nas mãos do profissional
- Manter o ambiente limpo e organizado (D): Reduz a contaminação ambiental
- Usar luvas estéreis (E): Cria uma barreira estéril entre as mãos do profissional e a ferida
A técnica asséptica envolve uma série de práticas, incluindo a preparação adequada do material, a criação de um campo estéril, a higienização das mãos, o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) como luvas estéreis, e a manipulação cuidadosa dos materiais para evitar a contaminação cruzada.
A resposta correta é a alternativa C: Solução fisiológica 0,9% estéril.
A solução fisiológica (cloreto de sódio a 0,9%) estéril é considerada a solução de limpeza padrão-ouro para a maioria das feridas por várias razões:
- Isotônica: Possui osmolaridade semelhante aos fluidos corporais, minimizando danos às células viáveis do leito da ferida
- Não citotóxica: Não prejudica fibroblastos, queratinócitos ou outras células essenciais para a cicatrização
- Não alergênica: Baixo potencial de causar reações alérgicas ou irritação
- Eficaz na remoção mecânica: Ajuda a remover detritos, exsudato e microrganismos soltos do leito da ferida através da irrigação
- Custo-efetiva e amplamente disponível
As outras soluções mencionadas geralmente não são recomendadas para limpeza rotineira de feridas:
- Água oxigenada: Citotóxica, pode danificar tecidos saudáveis e formar êmbolos gasosos
- Solução de iodo povidona (PVPI): Citotóxica, pode retardar a cicatrização e causar alergias. Seu uso deve ser restrito a situações específicas e por curtos períodos
- Álcool 70%: Altamente citotóxico e irritante para o leito da ferida, causa dor intensa. Usado apenas para antissepsia da pele íntegra
- Solução de clorexidina degermante: Contém detergentes e é indicada para antissepsia da pele íntegra (preparo cirúrgico, por exemplo), não para limpeza de feridas abertas. Soluções aquosas de clorexidina em baixas concentrações podem ser usadas em feridas, mas a solução fisiológica ainda é a preferida para limpeza geral
Em algumas situações específicas (feridas criticamente colonizadas ou infectadas), soluções antissépticas como PHMB ou octenidina podem ser consideradas, mas a limpeza inicial e rotineira deve ser feita preferencialmente com solução fisiológica.
A resposta correta é a alternativa B: Entre 4 e 15 PSI (libras por polegada quadrada).
A irrigação sob pressão é uma técnica eficaz para remover mecanicamente detritos, bactérias e resíduos de curativos do leito da ferida. No entanto, a pressão utilizada deve ser cuidadosamente controlada para ser eficaz sem causar danos aos tecidos saudáveis.
A faixa de pressão considerada segura e eficaz para a maioria das feridas é entre 4 e 15 PSI:
- Pressões abaixo de 4 PSI: Podem não ser suficientes para remover adequadamente os contaminantes aderidos ao leito da ferida
- Pressões acima de 15 PSI: Aumentam o risco de traumatizar o tecido de granulação delicado, empurrar bactérias para dentro dos tecidos mais profundos e causar dor ao paciente
Essa pressão pode ser alcançada utilizando:
- Uma seringa de 30-60 mL com uma agulha ou cateter de calibre 18-19G
- Dispositivos comerciais de irrigação projetados para fornecer pressão controlada
A técnica de simplesmente derramar a solução sobre a ferida ou usar bulbos de irrigação geralmente gera pressões muito baixas (< 4 PSI) e é menos eficaz.
É importante proteger a pele perilesional durante a irrigação e usar equipamentos de proteção individual (óculos, máscara, avental) para evitar respingos.
A resposta correta é a alternativa C: Entrar em contato direto com o leito da ferida e promover a cicatrização.
No sistema de curativos, distinguimos entre curativo primário e secundário:
- Curativo Primário: É a camada do curativo que entra em contato direto com o leito da ferida. Sua principal finalidade é interagir com a ferida para criar um ambiente ideal para a cicatrização. Dependendo do tipo de ferida e do objetivo terapêutico, o curativo primário pode ter funções como:
- Manter um ambiente úmido
- Absorver exsudato
- Promover desbridamento (autolítico, enzimático)
- Liberar agentes antimicrobianos
- Preencher espaços mortos
- Proteger o tecido de granulação
- Curativo Secundário: É a camada colocada sobre o curativo primário. Suas funções principais são:
- Fixar o curativo primário no lugar
- Absorver exsudato adicional que possa transpassar o curativo primário
- Proteger a ferida de contaminação externa e trauma mecânico
- Fornecer compressão (se necessário)
Portanto, a função essencial do curativo primário é atuar diretamente no leito da ferida para facilitar o processo de cicatrização.
A resposta correta é a alternativa D: Desbridamento autolítico.
O desbridamento autolítico é um processo natural em que as próprias enzimas do corpo (como proteases e colagenases), presentes no exsudato da ferida, atuam para liquefazer e digerir o tecido necrótico (esfacelo e escara).
Para que o desbridamento autolítico ocorra de forma eficaz, é essencial manter um ambiente úmido no leito da ferida. Isso é geralmente alcançado através do uso de curativos que retêm a umidade, como:
- Hidrogéis
- Hidrocolóides
- Filmes transparentes
O desbridamento autolítico é considerado o método mais seletivo (pois não danifica o tecido saudável) e menos doloroso, mas também é o mais lento. É indicado para feridas com necrose superficial e em pacientes que não toleram outros métodos mais agressivos.
Os outros tipos de desbridamento são:
- Cirúrgico: Remoção rápida de tecido necrótico com instrumentos cortantes (bisturi, tesoura). É o mais rápido, mas não seletivo e requer habilidade
- Enzimático: Aplicação de enzimas exógenas (como colagenase) para degradar o tecido necrótico. É seletivo, mas mais lento que o cirúrgico
- Mecânico: Remoção física de tecido necrótico (irrigação sob pressão, gaze úmida-seca - não recomendado, ultrassom). Geralmente não seletivo e pode ser doloroso
- Biológico (larval): Uso de larvas estéreis de moscas (Lucilia sericata) que secretam enzimas para digerir tecido necrótico e bactérias. É seletivo e eficaz, mas pode ter baixa aceitação
A resposta correta é a alternativa C: A camada mais externa (bandagem coesiva ou elástica).
A terapia de compressão multicamadas é um padrão de tratamento para úlceras venosas. Geralmente, consiste em 3 ou 4 camadas aplicadas com o objetivo de fornecer compressão graduada e sustentada.
A aplicação correta segue o princípio da Lei de Laplace, que relaciona a pressão exercida por uma bandagem com a tensão aplicada, o número de camadas e o raio do membro. Para obter compressão graduada (maior no tornozelo e diminuindo em direção ao joelho), a técnica de aplicação é crucial.
Embora a técnica exata possa variar ligeiramente entre os sistemas, geralmente:
- Camada 1 (Interna): Acolchoamento (algodão ortopédico ou espuma) para proteger a pele e distribuir a pressão uniformemente. Exerce pouca ou nenhuma compressão
- Camada 2 (Intermediária): Bandagem de baixa elasticidade (crepe ou similar) aplicada com alguma tensão para iniciar a compressão
- Camada 3 (Externa): Bandagem elástica ou coesiva de alta elasticidade, aplicada com maior tensão, especialmente no tornozelo, e sobreposta em 50%. Esta camada é a principal responsável por fornecer o nível terapêutico de compressão (geralmente 30-40 mmHg no tornozelo)
- Camada 4 (Opcional): Uma bandagem coesiva adicional para fixar as camadas anteriores
Portanto, a camada mais externa (geralmente a terceira camada elástica/coesiva) é a que contribui mais significativamente para a pressão final alcançada. A pressão deve ser maior no tornozelo e diminuir gradualmente em direção ao joelho (E está incorreto na direção da pressão).
A resposta correta é a alternativa E: A cada 3 a 7 dias, ou conforme saturação.
Uma das principais vantagens dos curativos modernos (como hidrocolóides, espumas, filmes transparentes, alginatos, hidrofibras) em comparação com os curativos tradicionais (gaze) é a capacidade de permanecerem no local por períodos mais longos.
Para feridas limpas, em fase de granulação ou epitelização, com pouca ou moderada quantidade de exsudato, a frequência de troca de curativos como hidrocolóides ou espumas pode variar de 3 a 7 dias. A troca deve ser realizada quando:
- O curativo estiver saturado (evidência de exsudato nas bordas ou vazamento)
- Houver descolamento das bordas do curativo
- Houver sinais de infecção
- O tempo máximo recomendado pelo fabricante for atingido (geralmente 7 dias)
Trocas menos frequentes oferecem várias vantagens:
- Menor perturbação do leito da ferida, permitindo que o processo de cicatrização ocorra sem interrupções
- Manutenção de um ambiente úmido e temperatura estável
- Redução do risco de contaminação
- Menor dor e desconforto para o paciente
- Redução do tempo de enfermagem e custos com material
Trocas diárias ou mais frequentes (A, B, C, D) geralmente não são necessárias ou recomendadas para feridas limpas com pouca exsudação tratadas com curativos modernos, a menos que haja uma indicação específica (como infecção ou alta exsudação inicial).
A resposta correta é a alternativa C: Puxar o curativo lentamente, mantendo-o paralelo à pele e apoiando a pele adjacente.
A remoção inadequada de curativos adesivos pode causar trauma à pele, conhecido como MARSI (Medical Adhesive-Related Skin Injury), que inclui descolamento da epiderme (skin stripping), bolhas de tensão, dermatite de contato e maceração.
A técnica correta para remover um curativo adesivo minimizando o trauma envolve:
- Soltar as bordas: Começar soltando cuidadosamente uma das bordas do curativo
- Remoção lenta e paralela: Puxar o curativo lentamente, mantendo-o o mais paralelo possível à superfície da pele (técnica de baixo ângulo). Evitar puxar perpendicularmente (ângulo de 90 graus), pois isso aumenta o risco de descolamento da epiderme
- Apoiar a pele adjacente: Usar a outra mão para pressionar suavemente a pele adjacente ao curativo enquanto ele é removido. Isso ajuda a estabilizar a pele e reduzir a tensão
- Direção do crescimento dos pelos: Se possível, remover o curativo na direção do crescimento dos pelos
- Uso de removedores de adesivo (opcional): Em casos de adesivos muito fortes ou pele frágil, pode-se utilizar removedores de adesivo médicos (à base de silicone ou outros solventes apropriados) para facilitar a remoção
As outras técnicas são incorretas ou potencialmente prejudiciais:
- Puxar rapidamente a 90 graus aumenta o trauma
- Umedecer com álcool pode irritar a pele e não é eficaz para todos os adesivos
- Aplicar calor pode danificar a pele
- Raspar o curativo é traumático
A resposta correta é a alternativa C: Feridas agudas ou crônicas complexas com moderada a alta exsudação.
A Terapia por Pressão Negativa (TPN) é uma técnica avançada de tratamento de feridas que utiliza pressão subatmosférica controlada para promover a cicatrização. Suas principais indicações incluem:
- Feridas agudas complexas: Feridas traumáticas, deiscências cirúrgicas, feridas abdominais abertas (laparostomias), enxertos de pele
- Feridas crônicas que não respondem ao tratamento convencional: Úlceras por pressão (estágios 3 e 4), úlceras do pé diabético, úlceras venosas
- Feridas com moderada a alta quantidade de exsudato: A TPN é eficaz na remoção do excesso de fluido
- Feridas cavitárias: Ajuda a aproximar as bordas e estimular o preenchimento com tecido de granulação
A TPN é particularmente útil em feridas grandes, profundas e exsudativas, onde ajuda a preparar o leito da ferida para fechamento cirúrgico ou acelera a cicatrização por segunda intenção.
Existem contraindicações importantes para a TPN, incluindo:
- Tecido necrótico com escara (A): A escara deve ser desbridada antes de iniciar a TPN
- Malignidade no leito da ferida (E): Risco de disseminação de células tumorais
- Osteomielite não tratada
- Fístulas não entéricas ou não exploradas
- Exposição de vasos sanguíneos, nervos ou órgãos
Feridas superficiais com pouca exsudação (B) e queimaduras de primeiro grau (D) geralmente não requerem TPN e podem ser tratadas com curativos mais simples.
A resposta correta é a alternativa B: Higienização das mãos, remoção do curativo anterior, limpeza da ferida, aplicação do curativo primário, aplicação do curativo secundário.
A sequência lógica e segura para a realização de um curativo simples, seguindo os princípios de controle de infecção e técnica adequada, é:
- Preparação: Reunir todo o material necessário, preparar o ambiente e explicar o procedimento ao paciente
- Higienização das mãos: Lavar as mãos cuidadosamente com água e sabão ou usar álcool em gel
- Calçar luvas de procedimento (limpas): Para remover o curativo sujo
- Remoção do curativo anterior: Remover o curativo sujo com cuidado, observando suas características (saturação, odor) e descartando-o adequadamente
- Descartar luvas de procedimento e higienizar as mãos novamente
- Abrir o material estéril: Abrir o pacote de curativo ou os materiais estéreis (gaze, curativo primário, etc.) sobre um campo limpo ou estéril, sem contaminá-los
- Calçar luvas estéreis (ou de procedimento limpas, dependendo da complexidade da ferida e protocolo institucional)
- Limpeza da ferida: Limpar a ferida com solução fisiológica estéril, utilizando gaze estéril e técnica apropriada (geralmente do centro para as bordas ou da área mais limpa para a mais contaminada)
- Avaliação da ferida: Observar as características da ferida (tamanho, profundidade, tipo de tecido, exsudato, bordas, pele perilesional)
- Secagem da pele perilesional (se necessário): Secar suavemente a pele ao redor da ferida com gaze estéril
- Aplicação do curativo primário: Aplicar o curativo primário escolhido diretamente sobre o leito da ferida, garantindo contato adequado
- Aplicação do curativo secundário: Aplicar o curativo secundário sobre o primário para absorção adicional e proteção
- Fixação: Fixar o curativo com fita adesiva hipoalergênica ou bandagem, sem apertar excessivamente
- Descartar materiais e luvas
- Higienização das mãos novamente
- Registro: Documentar o procedimento, a avaliação da ferida e o tipo de curativo utilizado no prontuário do paciente
A sequência na alternativa B (Higienização das mãos, remoção do curativo anterior, limpeza da ferida, aplicação do curativo primário, aplicação do curativo secundário) representa as etapas centrais do procedimento na ordem correta.